A cajucultura tem importância significativa na economia do Ceará, que é o maior produtor nacional do fruto. Entretanto, o setor reclama da falta de assistência técnica e de políticas públicas para o setor. Produtores e técnicos do setor defendem políticas públicas permanentes e mostram preocupação com ameaças externas ante a concorrência de países africanos e asiáticos. Um indicador do cenário desfavorável é a estagnação da produção nas últimas décadas.
“Somos o maior produtor de castanha de caju do País, mas os produtores, cuja maioria é oriunda da agricultura familiar, está entregue à própria sorte, sem a devida assistência técnica”. A afirmação é do agrônomo e especialista em cajucultura Vítor Oliveira. “Precisamos com urgência aumentar a produtividade, ter políticas públicas mais agressivas e dar uma verdadeira virada de mesa”.
Para Vítor Oliveira, o cenário atual é preocupante. “No fim da década de 1990, 20% da importação de amêndoa de caju feita pelos Estados Unidos eram do Ceará, mas hoje caiu para apenas 2%”, comparou. “Países da África, o Vietnã e Índia ocuparam esse espaço”. Oliveira ensina que a cada duas castanhas produzidas, uma é na África.
O Ceará é o maior produtor de castanha de caju do Brasil com 68,651 toneladas em 2021, frente ao Piauí (24,834 toneladas) e Rio Grande do Norte (16,955 toneladas).
Para este ano, a produção de castanha de caju no Ceará deverá ser de 75 mil toneladas, ou seja, uma queda de 11,8% em comparação com a safra de 2020 (85 mil toneladas). Em 2019, a colheita foi de 87 mil toneladas, de acordo com números da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA).
No cenário internacional, o Ceará ocupa a 10ª colocação no ranking, com participação de apenas 2%. A produção brasileira, por sua vez, permanece estagnada, com 122,695 toneladas este ano. Em 2020, foram 138,763 toneladas.
A previsão, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de queda de 11,6% em relação ao ano passado na safra brasileira.
EVENTO DEBATE CAJUCULTURA
O cenário da cajucultura, com sua realidade e desafios será debatido no 13º Caju Nordeste, que neste ano terá edição virtual. O evento será lançado nesta sexta-feira (24), em Fortaleza, e ocorrerá até o dia 15 de outubro. O evento é destinado a produtores, comerciantes, estudantes, pesquisadores, gestores do agronegócio e apreciadores da cultura do caju.
Paulo Hélder de Alencar Braga, presidente do Instituto Caju, no Ceará, frisou que o evento será um espaço de amplas discussões, apresentações de propostas e de ações governamentais e privadas a favor da cultura do caju. “Através do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) estamos com novo modelo de assistência técnica no campo, que leva também gerenciamento do negócio”, disse.
Alencar Braga defendeu a rápida implantação de “projetos específicos para cajucultura mediante a sua importância econômica, geração de emprego no campo, na indústria e no comércio, no período crítico do verão, com 60% de mão de obra em sua cadeia produtiva”.
AÇÕES GOVERNAMENTAIS
Para o secretário executivo do Agronegócio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), Sílvio Carlos Ribeiro, em recente observação ao Sistema Verdes Mares “é preciso ampliar a produtividade da cajucultura, e não tratar a atividade como extrativista, mas como fruticultura de alto desempenho”.
Ribeiro pontuou que “os resultados do trabalho de renovação de cajueiros velhos por plantas precoce de alta produtividade ainda vão aparecer”.
O assessor estadual da Cajucultura, na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Emarterce), Targino Bomfim, “não se deve apenas olhar para o que é preciso ser feito, mas ver também o que o governo estadual fez nesses últimos anos”.
Targino exemplificou que no período de 2007 a 2021, foram distribuídas 7 milhões de mudas de clones caju anão precoce para uma área de 37.500 hectares e substituição de copas do cajueiro gigante, velho, de baixa produtividade em 31172 hectares, isto é, em cerca de um milhão de plantas.
De acordo com a Ematerce, hoje, no Ceará, 34% da área cultivada é da variedade do cajueiro anão precoce, que responde por 58% da produção de castanha do caju.
A produtividade do cajueiro gigante é de apenas 180kg de castanha por hectare/ano; enquanto que do cajueiro anão precoce chega a 1000kg/ha/ano.
“Os dois projetos do governo do Estado de distribuição de mudas do caju anão e de substituição de copas do cajueiro gigante tem impacto nos números atuais e, se nada disso, tivesse sido feito, o cenário era desfavorável, mas claro que entendemos a necessidade de ampliar a assistência técnica no campo e aceitamos críticas”, argumentou Targino Bomfim.
Por último, o técnico da Ematerce observou que a cadeia produtiva “precisa ser melhor articulada, organizada e que os produtores precisam buscar conhecimentos e cada um fazer a sua parte”.
Do DN